Alejandrina, natural da Venezuela, artesã em Boa Vista
Artesanato indígena

Alejandrina deixou a Venezuela porque seu esposo tinha problemas de saúde e, em meio à crise que assola o país, não conseguia comprar remédios. “Deixamos nossos filhos com lágrimas nos olhos, pensando que não voltaremos”, conta ela, sobre o momento da partida.
Ela é parte da população indígena Warao que deixou a Venezuela rumo ao Brasil. Hoje em dia, Alejandrina vive em um abrigo mantido pela Fraternidade – Federação Humanitária Internacional (FFHI) em Boa Vista. Professora de formação e com mais de 40 anos de carreira, ela encontrou no artesanato o seu sustento no Brasil.
Alejandrina conta que o artesanato é uma parte importante da cultura e do patrimônio venezuelano, e afirma ver semelhanças com a atividade no Brasil. “Desde pequenas, as mulheres encontram no artesanato parte importante de sua educação. Com o tempo, foram surgindo outras variações para o artesanato, inclusive de viés econômico, para comercializar”, explica ela, que atualmente integra o projeto A cadeia de Valor do Artesanato Warao, desenvolvido pelo Museu A Casa e pelo Acnur.
Segundo a Fraternidade – Humanitária (FFHI), também responsável pela iniciativa, o trabalho se desenvolveu ao longo de quatro anos, e proporcionou para as mulheres que vivem nos abrigos a possibilidade de aprimorar ainda mais seu ofício e sua técnica. Entre vários itens, destaca-se o material de cestaria e redes produzidos com a fibra do buriti, motivo de orgulho para Alejandrina.
“Me sinto orgulhosa de praticar e carregar tradições como as nossas. A forma com que o artesanato é feito, e o fato de compartilharmos esse costume e levarmos de geração em geração”, descreve a artesã, que hoje em dia conta que sua prioridade é enviar recursos para os filhos, que ficaram na Venezuela. “Eles são todos formados, mas o salário que ganham mal dá para comprar um pão. A situação dos nossos familiares e a nossa maior preocupação”.
Em 2021, o projeto deve prosseguir, com o objetivo de continuar impulsionando a comercialização dos produtos, que sofreu impacto por conta da pandemia de Covid-19. Além de ter no artesanato sua principal fonte de renda, Alejandrina também sonha em compartilhar e intercambiar sua cultura com outros povos indígenas no Brasil e se integrar cada vez mais ao país. “Quero compartilhar e ser parte do Estado, contribuir com minhas ideias experiências, para que os outros me conheçam e para que eu possa também conhecê-los”.
*Sobre o Projeto Artesanía Warao*
Estima-se que haja uma população de cerca de 8 mil indígenas venezuelanos no Brasil, em sua maioria em Roraima, Amazonas e Pará. E Warao é a etnia mais predominante. O Museu A Casa, em parceria com ACNUR e BID, desenvolvem esse projeto de apoio aos artesãos e artesãs indígenas venezuelanos. Já foram beneficiadas cerca de 300 pessoas nas cidades de Manaus (AM), Boa Vista (RR) e Pacaraima (RR). A compra dos artesanatos pode ser feita na loja do Museu A Casa do Objeto Brasileiro, na Av. Pedroso de Morais, 1216, Pinheiros, em São Paulo, ou pela página no Instagram, com entrega para todo país.
(Texto produzido em Fevereiro de 2021.)