Lara, natural de Moçambique, proprietária de oficina mecânica em São Paulo (SP)
Automotivo
Foto: Arquivo pessoal
Em setembro de 2013, Lara decidiu deixar Moçambique e desembarcar sozinha no Brasil, a mais de 8 mil quilômetros de distância. “Saí por causa da minha orientação sexual. Moçambique ainda é um país bastante preconceituoso e o Brasil é um pouco mais aberto em relação a isso. Meu maior objetivo era ter o respeito das pessoas”, conta.
Aos 29 anos, a jovem se instalou em São Paulo (SP) e passou por uma adaptação bem difícil, diante de hábitos e costumes bem diferentes. “A vantagem era que eu falava português”, brinca. Mesmo com tantos desafios, ela já tinha um plano: queria empreender.
Por isso, em 2014, fez um curso de empreendedorismo do Sebrae, Ministério da Justiça e ACNUR. A meta era abrir uma empresa de exportação e importação, mas ainda faltava experiência e recursos financeiros. A ideia foi adiada e Lara atuou como funcionária em diversas áreas. Foi consultora de vendas, telemarketing e camareira. Com a graduação em TI, também atuou neste departamento em grandes companhias.
A ideia do negócio veio a partir de uma conversa despretensiosa com um amigo, que atuava no setor de automóveis. “Ele perguntou se eu toparia entrar na aventura de montar uma oficina mecânica com ele. Eu me agarrei na experiência dele na área e a gente decolou. Abrimos as portas no final de 2020”, relembra a empreendedora, acrescentando que também usou muitos conhecimentos de gestão adquiridos na faculdade.
Assim,no bairro Alto da Mooca, nascia a Oluchi Reparações Automotivas Ltda. O nome vem da língua Igbo, idioma de um dos maiores grupos étnicos africanos, que significa “presente de Deus”. Hoje, Lara e o sócio comandam a oficina, que já conta com seis funcionários e é focada no atendimento de empresas e corporações, como Corpo de Bombeiros e Comgás. “Nossos planos para o futuro são participar de licitações e conseguir abrir ainda mais o leque de clientes”.
Além da expansão da Oluchi, Lara também almeja apoiar outras pessoas refugiadas. Atualmente, a empresa tem um funcionário refugiado da Guiné-Bissau. “Quero que, nesta expansão, refugiados estejam junto com a gente. Quero apoiar outras pessoas e que sejamos uma referência no mundo dos refugiados e migrantes. O Brasil é um país de oportunidades quando você se permite. Eu recomecei, não foi fácil, mas quando você está focado em buscar esse objetivo, é possível. Hoje me sinto uma guerreira vitoriosa, estou trilhando aquilo que almejei desde o princípio, que é trabalhar por conta própria”, completa.
Em paralelo ao ritmo intenso da oficina mecânica, Lara ainda concilia outro sonho antigo: o de montar uma empresa de exportação e importação. Neste momento, ela está captando parceiros com o objetivo de exportar, principalmente, cereais para Moçambique.
(Texto incluído na plataforma em Julho de 2022)