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Limia e Motaz, naturais da República do Sudão, chefs em Cuiabá (MT)

Gastronomia

Limia e Motaz

Foto: Taiguara Luciano/ACNUR

Diante da perseguição política e até torturas, Motaz, junto à esposa Limia e sua filha, viu-se obrigado a deixar, em 2001, a República do Sudão, terceiro maior país da África. Com um primo morando no Brasil, resolveram tentar a vida no país que até então era desconhecido.

“Quando chegamos aqui, a língua foi um susto para nós. Não sabíamos nada e até hoje é difícil escrever. Minha filha caçula de vez em quando me corrige”, brinca Limia, que era professora de Matemática no Sudão, onde os idiomas oficiais são o árabe e o inglês.

Motaz, que era formado e trabalhava com Contabilidade, conseguiu um emprego no pequeno município de Dois Vizinhos, no Paraná. Ele trabalhou em um frigorífico de abate halal - quando o animal é sacrificado conforme a lei islâmica - por cerca de dois anos. A família depois se mudou para São Paulo, onde abriu um negócio de equipamentos eletrônicos, mas não teve sucesso. Motaz voltou para o frigorífico, em um cargo de supervisor no estado do Mato Grosso, onde atua até hoje. A família tinha uma vida tranquila, com três filhos, sendo dois nascidos no Brasil.

Porém, um triste diagnóstico leva o casal de volta a São Paulo, dessa vez para tratar um câncer do filho do meio, que na época tinha apenas nove anos. A rotina extenuante no hospital dura dois anos. “Então ele foi para perto de Deus e a tristeza estava profunda em nosso coração”, conta Limia.

Após o episódio, eles voltaram a Cuiabá. Para tentar dar ânimo e sugerir um novo projeto à família, um amigo libanês emprestou uma casa abandonada para que pudessem abrir um comércio. Durante sete meses, o casal trabalhou das 6h da manhã até tarde da noite com a mão na massa na reforma. Em 2017, eles abriram o Mobi, restaurante de comida árabe e cujo nome remete ao apelido carinhoso do filho. “Eu e meu marido gostamos de cozinhar, então não é trabalho, porque sai da alma. Tudo isso foi uma terapia para nós. O povo cuiabano tem calor humano e vinha aqui nos abraçar. Nestes cinco anos de negócio, os clientes viraram amigos”, comenta.

Com foco na comida libanesa e síria, o local vende tabule, babaganoush, homus, quibe cru e frito, esfihas, kafta, entre outros. Por um tempo, inclusive, tiveram um ajudante refugiado da Síria para auxiliar na lanchonete. Hoje, o restaurante funciona no bairro Duque de Caxias e também realiza entregas pelo Ifood.

O casal planeja ampliar ainda mais o negócio e transformar o local em um centro cultural. “As pessoas não vêm ao nosso restaurante só para comer, a gente conversa muito. Eles perguntam sobre nossa religião, costumes, por que uso hijab (véu muçulmano). As pessoas não têm informações sobre a Arábia. São 22 países e cada um tem uma culinária e uma cultura muito rica. Nossa ideia é montar tendas e em cada uma mostrar a decoração e a cozinha de um desses países. Esse é o nosso sonho”, finaliza Limia.

(Texto incluído na plataforma em Julho de 2022)

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