Lis, natural da Venezuela, chef em Manaus (AM)
Gastronomia
Lis trabalhava como professora de espanhol em um abrigo para crianças em situação de vulnerabilidade em Manaus, Amazonas, quando decidiu que queria empreender. Para isso, começou a fazer cursos na área, como o “Potencia tu Negocio”, promovido pela incubadora Five One Labs, com apoio do ACNUR e parceiros, além de passar por uma assessoria do Sebrae. Em um desses programas, promovido pela prefeitura de Manaus para a formação de startups e empreendedorismo, Lis apresentou diversas ideias de negócios, mas ouviu que, para tirar os projetos do papel, precisaria de muito capital. Então, surgiu a proposta de empreender na gastronomia, área na qual já tinha alguma experiência, por ter trabalhado como cozinheira em seu primeiro emprego no Brasil.
Lis aceitou o desafio do mentor, que propôs a ela servir o coffee break do próximo curso para startups. Sem nenhuma estrutura ou equipamento, ela começou a pedir bandejas e utensílios emprestados para atender ao pedido. A mistura de quitutes brasileiros e venezuelanos agradou. “Eu ainda não acreditei que deu tão certo. Ali mesmo já contrataram almoço e café para o dia seguinte”, relembra a empreendedora.
E, assim, em fevereiro de 2022, nasceu o Arepa com Tucumã, um serviço de catering com atendimento personalizado para eventos, principalmente corporativos. A ideia do negócio (e que aparece no próprio nome) é fornecer quitutes típicos dos dois países, por isso a combinação da arepa, tradicional salgado venezuelano, com o tucumã, fruto da Amazônia. Em poucos meses, Lis já tinha utensílios próprios e uma rede de 12 cozinheiras, sendo 10 venezuelanas e duas brasileiras, que aciona sempre que chega uma reserva. Elas já passaram por cursos, com apoio de ONGs como a Hermanitos e Fundação Pan-Americana para o Desenvolvimento (PADF), na área de preparo e armazenamento de alimentos.
Agora, Lis planeja mudar o modelo de negócio para o de uma startup e quer desenvolver uma plataforma, na qual as mulheres venezuelanas ou em vulnerabilidade possam se cadastrar como cozinheiras. Assim, ela conseguirá apoiar ainda mais as famílias venezuelanas do bairro Mauazinho, onde já atua por meio de um projeto social.
“Isso permite que o negócio cresça, porque posso prestar mais de um serviço ao mesmo tempo. Quero trabalhar para ajudar a formar e gerar renda a mulheres que estão em situação de vulnerabilidade. O negócio é uma ferramenta para alavancar a situação dessas pessoas. Afinal, a mulher imigrante sofre muito, mas a mulher sozinha sofre ainda mais. A minha força veio dos meus filhos, eu tinha que fazer as coisas de qualquer jeito”, explica Lis, que chegou ao Brasil em 2018 sozinha com os dois filhos.
Atualmente, o Arepa com Tucumã conta com um pequeno espaço alugado para que as mulheres possam preparar os pratos e fazer o planejamento dos eventos. Para seguir crescendo e apoiando outras mulheres, a empreendedora também faz planos de abrir uma cozinha comunitária em Manaus. Assim, as cozinheiras teriam estrutura para manter seus próprios negócios ou prestar serviço a outros estabelecimentos.
(Texto incluído na plataforma em Setembro de 2022)