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Sorab e Raihana, naturais do Afeganistão, chefs em São Paulo

Gastronomia

Sorab e Raihana

“Deixei o Afeganistão porque o país está há 40 anos em guerra. Sempre havia problemas com invasões, extremistas e depois com os talibãs. Mesmo com a presença norte-americana, os talibãs faziam atentados e promoviam matanças”. É dessa forma que Sorab, natural do Afeganistão, descreve os motivos de ter deixado o seu país, em 2012.

Sorab e a família são da etnia hazara, historicamente perseguida pelo grupo fundamentalista islâmico. “Estávamos cansados de ter que sair para buscar um lugar onde podíamos viver como humanos, por isso deixamos o nosso país”, conta ele, que vivia na região central do Afeganistão. Os hazara são um povo descendente dos mongóis e têm idioma, hábitos e religião distintos da maioria dos afegãos.

Há uma década, Sorab deixou o país natal sozinho em busca de um destino viável para trazer toda a família. Ele conta que entre as razões que fizeram com que ele escolhesse o Brasil para viver estava o histórico de paz e respeito aos Direitos Humanos do país, além da possibilidade de uma vida mais livre e tranquila.

Sua jornada até o Brasil envolveu passagens pelo Paquistão, pelo Peru e pela Bolívia. Ao chegar, ele foi garçom, lavou pratos em um restaurante, trabalhou como motorista e depois, com algum conhecimento da língua portuguesa, deu aulas de idiomas em escolas em São Paulo. Seu primeiro empreendimento no ramo da gastronomia foi um estabelecimento que vendia pasteis, pizzas, lanches e alguns pratos brasileiros.

Com a chegada da sua esposa, Raihana, ao Brasil, há quase cinco anos, a família então resolveu começar a apresentar ao público brasileiro a comida típica do Afeganistão. “Como o Afeganistão sempre foi uma zona conflituosa e concentra muitas pessoas de diferentes locais do mundo, isso acaba refletindo em pratos marcados por uma fusão de sabores e que agradam muito facilmente ao paladar”, explica Sorab, que atualmente comanda o Koh-I-Baba, único restaurante de comida afegã em São Paulo.

Entre as delícias produzidas por Raihana e servidas no local, estão o mantu (bolinho recheado de carne moída e cozido no vapor) e o prato nacional do Afeganistão, chamado kabuli (leva arroz basmati, carne de costela, pistache, cenoura, uva passas aromatizada com cardamomo e vinagrete). Além disso, os clientes podem saborear opções vegetarianas e outros pratos típicos da culinária indiana e tailandesa.

A recepção do público brasileiro, conta Sorab, foi bastante positiva e hoje em dia o Koh I Baba conta com uma clientela cativa e com fila de espera aos finais de semana! Além de serem servidos no restaurante, os pratos, preparados por Sorab e por sua família, também podem ser pedidos por meio de aplicativos de entrega.

No ano de 2021, Sorab e Raihana passaram por mais um momento difícil. Com a retomada dos talibãs ao poder e a saída das tropas norte-americanas do Afeganistão, parte de sua família que ainda estava no país voltou a correr devido ao elevado risco de perseguição e morte. Depois de uma saga burocrática e de três meses em Islamabad, no Paquistão, aguardando o visto humanitário, parte da família chegou ao Brasil em fevereiro deste ano. Além de se dedicarem ao estudo do idioma português, os parentes de Sorab e Raihana também ajudam nas atividades do restaurante. “Assim vamos para frente, tem que estar todo mundo junto para seguirmos”, comenta ele, sobre o processo de reunificação familiar.

Entre os desafios comerciais enfrentados pelo empresário, ele cita a presença nas redes sociais como um deles, mas também ressalta que vem estudando e se aprimorando na área, “aprendendo dia após dia, passo por passo”.

Para o futuro, Sorab deseja transferir o restaurante para um espaço maior, onde consiga receber ainda mais clientes, e seguir trabalhando com a família. “Quero mandar meus filhos e minha neta para a universidade, e seguir a vida aqui, no Brasil, que agora é nosso país”.

(Texto incluído na plataforma em Abril de 2022)

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